Sara está no sofá

A quem deu o título:

Sara está no sofá
Na mão, ela tem um cocar
Pra se vesti de índia
Enquanto o sono não chega

Seu amor está na TV
Na espera de adormecer,
Sara se veste de índia
Tão linda! Mas tão sozinha

Sara, por favor vá dormir
Sonhe, force um mundo feliz
Chore, pra implorar um carinho
E então, deixe seu amor sozinho

Sara se pinta pra amar
Enquanto sonha com um lar
Ela não está mais sozinha
Agora ela tem um cocar

Sara, por favor dê-me um beijo
Deixe pra lá esse sofá!
Quero satisfazer teu desejo
De amar vestindo um cocar

Quando você me olha

Quando você me olha desse jeito
Quando você me molha com despeito
É quando eu mais sinto sua falta
É demais quando o meu peito salta

Lindamente implora a minha mão
Eu sou besta, e dou então meu coração
Porque eu não sei te segurar
E pra me enganar, pra sempre vou te amar

O seu desejo insaciante
É ter amarrado a minha mão
Com um barbante
Que segue num avião
Em direção ao calor do sertão
No pólo norte de um peito
Que se acostumou a amar a solidão

Quando você corre pra me achar
Se esquece que eu que vou estar
A pernoitar com pernas pra gastar
Vou sempre estar tão vivo pra falar:

Meu amor, eu sou tão teu
Meu amor, eu sou tão...

E você, não!
E você...

soneto do varal elétrico

Quase perdidos no frio da calçada
Debaixo do longínquo varal elétrico
Que estende à noite, a roupa dos pássaros
Com a trilha sonora de um latido patético

O brio berrante à beira de um carro
Estalava o suspiro de uma multidão
Que admirava árvores enamoradas
Separadas pelo muro da ilusão

Se é muro, estrela e cadência de escuridão
É tudo da mesma alegria
Reclusa de solidão

Pois se é "não" todo dia,
Espero rachar o chão
E a amálgama de idéias tornar minha companhia




galopes, dúvidas sobre sonhos e batuques (tudo isso acordado)

Eu tenho um cavalo dentro de mim mesmo
Galopando em busca de meu amor
Eu sou uma língua em constante odaxesmo
Me tremendo todo para te entregar uma flor

Eu sou a dúvida
Tu és a cândida

Tu tens toda a mentira que eu preciso
Para obter todo o sufrágio popular
Tu és um choro, um assobio e um sorriso
E agonia de não ter pr'onde olhar

Eu sou a dívida
Tu és a lâmpada

Me tira do inferno e já me põe no limbo
Vou pro final da fila e espero no guichê
Quando te encontro tu me marca com um carimbo
O próprio inferno é onde não posso te ver

Eu sou a vida
Tu és a súbita

Eu quero saber se Jesus vem ou não vem
Quero saber se Jesus vem ou não vem
Quero saber se Jesus vem ou não vem
Para me entregar a cândida
Para me entregar a lâmpada
Para me entregar a súbita


http://rapidshare.com/files/303857019/s__bita_do_meu_dia.mp3.html

como se fosse a primavera

Dolores, Drama e Serena
Não sei de quem tenho mais pena
Vivendo em um íntimo aquário
Não são como um livre canário

Dolores, Serena e Drama
Penso em deitá-las na cama
Não quero que venham a brigar
Sei que não posso falhar

Serena, Drama e Dolores
Acho que vou compra-lhes flores!
Tão próximas da liberdade
Espero não sentir saudade

Dolores só sente azedume
E é de costume pairar em seu mar
Procura por perto um cardume
Ou um perfume para cheirar

Drama é como seu nome
A água consome a sua euforia
Ela vive sempre com fome
E some, só volta n'outro dia

A última que vem é a Serena
Com plena certeza que é a mais bela
Pensa sempre que está numa cena
Esquece que é peixe, pensa que é donzela

Dolores, Drama e Serena
Não sei de quem tenho mais pena

Serena, Dolores e Drama
Ninguém mais do que eu as ama!

Drama, Serena e Dolores
Com certeza, elas são meus amores



De que callada manera
Se me adentra usted sonriendo
Como si fuera la primavera
Yo muriendo

Chico Buarque de Hollanda




Discursão ao pé da novela, sem beira nem mesa de cabeceira

Estourou o milho da pipoca
As pessoas estão reunidas
Agora se inicia a fofoca
Vamos falar das vidas
Vamos falar dos trouxas
Fingir que a vida é um circo
Que existem mil flores roxas
Em coração de um menino
Que se apaixona por mil donzelas
Uma flor pra cada "ela"
Uma dela pra cada coração
A flor tá dentro do peito
Ou na camisa de botão
Agora não tem mais jeito
A nova mulher é tufão
Da perfeição ela é clone
Ele se engana, não?
Seu coração é um ciclone
E elas, pra ele, é o ar
E vão dizer em um megafone
"Um dia tu vai se enganar!
Um dia tu vai se perder"
Espera esse dia chegar
Assim como espera anoitecer
Pois que venha assim, bem lindo
Sem sequer bater a porta
O dia será bem vindo
O diretor dirá "corta"
E a plateia pedirá ação

fluidos, chapéis e sol à pino

Se passadas horas, vi teu sorriso debruçado
De uma quimera tardia, sofrida por ser ouvida
E contente por chorar achando que é pecado
O inverno enganar o amor, assim como engana a vida

Teu réquiem tem a audácia de me calar
E tua voz, a vontade de me prender
Eu sei que não virá de ti, um olhar pra clarear
Mas virão de teus pensamentos o dom de escurecer

Como da treva, fiz meu paraíso
Da dor, faço meu remédio
Eu tenho tudo o que preciso
Para me afundar no meu próprio tédio

Os abismos eles quiseram me esconder
Com o equívoco de que eu nunca fosse achar
E teu olho, é minha nova fonte de ler
Seu passeio é como uma aura num luar

Inalo apenas monóxido de carbono
E vejo carboxiemoglobinas a se formarem
Perco o fôlego, perco o sono
E perco a vista tuas faces a me cantarem

Sou escravo de minha querência de liberdade
E a estrela que mais brilha divindo meu céu
É dádiva da beleza da crueldade
Que escondem-me dentro do meu chapéu

Porque querer amar demais é ilusão
E não querer amar é pecado




oito horas da manhã, uma samba canção e um desodorante senador

(Preciso dizer sobre o que será? Ok.)

Sobre minha pessoa:

Senti-me num espremedor de macarrão noite passada. Estranho. E eu era o macarrão. Fui procurar significados de sonho sobre isso, e nada achei. Pudera. Quem sonha com um espremedor com uma vazão d'água alternada? A água vinha de tal maneira que senti medo mesmo, e isso foi tornando-se constrangedor, e eu não conseguia sair. Macarrões não pensam! Eu penso, fato.
Depois, vim fazer a minha visita diária a este recinto e deparei-me com o seu título "Ainda penso em liberdade". À todos já vos dei explicações de títulos e nomes para meus blogs, mas tenho me omitido bastante em relação a este. Não que não seja livre hoje, mas o auge ainda virá com as asas. Sou feito de quê então? Pássaro não sou, e me deprimo tentando disfarçar com assobios frenéticos, orquestrados, sinfônicos e hiperativos. A saudade prende-nos, então. A plena liberdade inexiste em centros urbanos. Todos se prendem a algo, e só pensam em soltar-se quando veem-se sufocados. É triste o sufoco. Eu sempre fui preso, e sempre gostei de ser. Como aqueles pássaros que cantam até perderem o fôlego quando estão dentro da gaiola. Mas é que o tempo vai lhe cansando, creio. Nem a mais aquática criança perdura 24 horas em uma piscina. Nem o mais ocioso pássaro aguenta a vida em uma gaiola. Eu prefiro a assiduidade da fuga. E vou fugir. Não sei com quem, nem para onde. Antecipo minha carta de fuga. Ou não.

Por fim - perdoem-me a perda de tempo, mas queria escrever isso logo para não achar-me com cara de macarrão - quero fazer uma homenagem àquela que mais me inspirou de ontem para cá: "Perfect day" do Lou Reed. Embora sendo leigo nas composições de Lou Reed, essa, sem dúvidas, é sua obra-prima. Ou o cd todo, então. Poucos são meus posts sobre música. Mas esta está merecendo. Pelo clichê de frases como "Estou feliz e estou passando com você. Você continua fazendo-me segurar as pontas"; por sua cena em "Trainspotting" a qual o diretor não podia colocar música melhor; pela sua forma direta e concreta. E por fim, pela melodia/letra que me deixou chateado por não ter reparado há mais tempo.

Prefiro colocá-la traduzida, então lá vai

Somente um dia perfeito
Bebendo sangria no parque
E mais tarde, quando ficar escuro

Vamos para casa

Só um dia perfeito
Alimentando animais no zoológico
Depois um filme, também
E assim, casa

Oh, É sim um dia perfeito!
Eu estou feliz e estou passando com você
Tão dia perfeito
E você continua fazendo-me segurar as pontas
E você continua fazendo-me segurar as pontas

Só um dia perfeito
Todos os problemas deixei sozinhos
Pessoal do fim-de-semana está na nossa
É tão engraçado

Somente um dia perfeito
Você me fez esquecer de mim mesmo
Eu pensei que eu era uma pessoa qualquer
Alguém bom

Você está indo colher o que semelhou
Você está indo colher o que semelhou

O intríseco mecânico do homem

Sobre meu eu maquinado:
Deveras é triste iniciar pensamentos, ainda que estivesse deitado, sobre o ser humano robótico. Ou robotizado. Este primeiro, tenho para mim, que é o mínimo de máquina que todos tem. O intríseco mecânico do homem. Aquilo que o faz não ter sentimentos, que o torna mero ser comumente fabricado pelo avanço tecnológico, que torna-lhe o homem de lata do Mágico de Oz. Até mesmo o que é sempre sentimentado (sic) . O outro, no caso, é a vítima. É aquele que tinha de tudo para não ser máquina pura. Mas contraiu a doença. Foi programado para sentir as emoções que sente. Para desempenhar sua função biológica. Não sabe disso, mas tem sua hora para chorar, cantar, sorrir, procurar seu amor, e procurar mais ainda e incessantemente, a felicidade.


O exato é que não existe uma querência de liberdade. A armadura de ferro nos protege, acredito. Os parafusos nos deixam mais conscientes (daí a expressão "está com o parafuso frouxo), e o coração... Poucos foram os que necessitaram dele. E aqueles que amam demasiadamente, perdoem as palavras, mas foram cobaias para provar e nos enganar, de que existe amor em máquina.





Tudo mentira. Minha ou dos humanos? Pouco importa, já dizia o antigo blog: Nada é de verdade.


"Senão é como amar uma mulher só linda. E daí? Uma mulher tem que ter qualquer coisa além de beleza, qualquer coisa de triste, qualquer coisa que chora, qualquer coisa que sente saudade.
Um molejo de amor machucado, uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher, feita apenas para amar, para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão."

Vinícius de Moraes